Não sei dizer, ao certo, quando é que a casa foi construída.
A localização da casa não é má, está perto da cidade, mas está isolada. O quintal que tem à volta é pequeno, sem flores. Só relva.
E não sei bem como começou.
Quando entrei na casa pela primeira vez, era uma casa de um andar. Uma cozinha. Uma sala de estar. Dois quartos. Uma casa-de-banho. Pequena.
Quando me mudei, pareceu-me um pouco maior. Não liguei. Quanto mais tempo passamos num sítio, maior fica. É normal. É natural.
O que me parece menos natural, menos normal, é a segunda casa de banho que apareceu um dia. A casa de banho que está à beira da cozinha ainda lá está. Mas agora há outra à saída do meu quarto. A sanita faz descarga, sai água quente da torneira do lavatório e do duche.
Eu entrei no quarto de banho. É real. Eu senti a louça, senti o azulejo frio nos meus pés. De onde veio? Porque veio? A casa de banho apareceu ali, sem aviso, e pela sua localização, deveria ver-se a nova divisão pela parte de fora da casa. Mas não se vê nada - a casa está igual.
Nunca usei aquele quarto de banho.
Não sei dizer, ao certo, quando as escadas apareceram. Olhei para o tecto, um dia, por alguma razão, da entrada, e lá estava um degrau de escada. Bati-lhe com o cabo da vassoura. Era sólido, real. Peguei num escadote, e consegui chegar ao degrau. Toquei-lhe. Era sólido, real. Pendurei-me nele. Queria bater no tecto, tocar-lhe e ver se era oco. Se ia ficar oco. O degrau não aguentou com o meu peso. Partiu, despregou-se do tecto. Caí no chão, ainda agarrado ao degrau. De onde estava o degrau, começou a verter um líquido amarelo. Arrumei tudo, voltei a pôr tudo no sítio, deitei o degrau no lixo.
No dia seguinte, não tinha cozinha. Tinha agora outro degrau no mesmo lugar do outro.